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Fuvest 2014. Prova V. Questão 82. Heis de cair


Texto para as questões de 82 a 84.

CAPÍTULO LXXI

O senão do livro

Começo o arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem… E caem! – Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar… Heis de cair.

Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.

No contexto, a locução “Heis de cair”, na última linha do texto, exprime:

a) resignação ante um fato presente.

b) suposição de que um fato pode vir a ocorrer.

c) certeza de que uma dada ação irá se realizar.

d) ação intermitente e duradoura.

e) desejo de que algo venha a acontecer.

Resposta C

A locução verbal “heis de cair” se relaciona com a inevitabilidade da morte, assim é construída a metáfora com as folhas de cipreste que caem. Assim, trata-se de  uma locução que exprime “certeza de que uma dada ação irá se realizar”.