Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as feições defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um livro adúltero […].
Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver, mas então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.
ASSIS, M. A causa secreta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br Acesso em: 9 Out. 2015.
No fragmento, o narrador adota um ponto de vista que acompanha a perspectiva de Fortunato. O que singulariza esse procedimento narrativo é o registro do(a)
- indignação face à suspeita do adultério da esposa.
- tristeza compartilhada pela perda da mulher amada.
- espanto diante da demonstração de afeto de Garcia.
- prazer da personagem em relação ao sofrimento alheio.
- superação do ciúme pela comoção decorrente da morte.
Solução
Machado de Assis sempre nos impressiona com seus narradores. O trecho mostra como Garcia (o possível amante da esposa morta) sofre ao vê-la em um caixão). Isso ocorre enquanto Fortunato, o marido e viúvo, pelo que pode se depreender do texto, observa a dor de Garcia. Veja o trecho: “Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.”
Letra D: prazer ao ver o sofrimento alheio