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ENEM 2014 – Linguagens, códigos e suas tecnologias Q.126 Camelôs Bandeira


Camelôs
Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende balõezinhos de cor
O macaquinho que trepa no coqueiro
O cachorrinho que bate com o rabo
Os homenzinhos que jogam boxe
A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa
[alguma.
Alegria das calçadas
Uns falam pelos cotovelos:
— “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai
buscar um pedaço de banana para eu acender o charuto.
Naturalmente o menino pensará: Papai está malu …”
Outros, coitados, têm a língua atada.
Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino
[ingênuo de demiurgos de inutilidades.
E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da
[meninice …
E dão aos homens que passam preocupados ou tristes
[uma lição de infância.
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança expressividade porque
a) realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira.
b) promove uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos.
c) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira.
d) introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova.
e) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil.
Resposta
 Bandeira usa o dia-a-dia em suas poesias, nesta em particular vemos a cena do camelô vendendo brinquedos. Neste poema vemos o sentido lírico nos versos “E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da meninice” que interrompe as preocupações e tristezas dos homens: “E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância.”
Letra C

 Veja esta poesia de Manuel Bandeira que inaugurou o modernismo. Perceba que ele começa falando sobre a estética anterior (parnasianismo e simbolismo: lirismo comedido e lirismo bem comportado). Ele inclusive cita exemplos de situações bem chatas para fazer um paralelo com essa estética “purista”. Em seguida, ele defende o lirismo livre, dos loucos, dos bêbados, abrindo caminho para o modernismo. Esse poema foi bandeira de luta dos modernistas. Perceba que não há métrica e os exemplos são cotidianos assim como no poema “Camelôs”.

Poética
(Manuel Bandeira)

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e
[manifestações de apreço ao Sr. diretor

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho verná-
[culo de um vocábulo
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com
[cem modelos e cartas e as diferentes
[ maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare

– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.