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O motivo de fazer ITA


Posso falar que eu queria ser astronauta ou que queria trabalhar com foguetes, projetar aviões… E não é que isso não seja verdade é que, no fundo, no fundo, eu tinha medo de ser pobre. Então, hoje eu vou te contar se valeu a pena fazer ITA por dinheiro.

Então, lá atrás eu pensei no caminho ideal: estudar muito, passar no ITA, me formar no ITA, ter o trabalho perfeito… Porque, claro, me formei no ITA… Ganhar muito dinheiro e aí eu seria feliz. Olha só que reta, fácil e simples. O problema é que esse caminho não é linear e muitas coisas podem acontecer, inclusive o final: não necessariamente ganhar dinheiro vai trazer felicidade. 

Estudo do Daniel Kahneman

Por exemplo, tem um estudo do Daniel Kahneman, que ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2002, que mostra que a renda alta melhora a avaliação da vida, mas não o bem estar emocional, ou seja, a partir de 75 mil dólares ao ano não importa quanto dinheiro a mais você tem, você não vai ter mais alegria, menos tristeza ou menos estresse. Ou seja, renda alta compra a satisfação geral da vida, mas não necessariamente boas emoções, alegria, amor ou felicidade.

Dessa forma, se não é o dinheiro que vai resolver, o que vai? E a gente entra no segundo ponto, que é a realização no trabalho. Continuando na reta, eu achava que eu ia me formar e teria o trabalho perfeito, porque, claro, eu estudei muito, me formei no ITA e todas as melhores empresas do Brasil vão ficar me ligando para ter os melhores trabalhos com os melhores salários. Isto está errado em tantos níveis… 

Primeiro, o que são as melhores empresas? E essas empresas iriam me querer só por que eu fiz ITA? E o mais importante: Eu ia gostar de trabalhar nessas melhores empresas? Isso tudo pode ser? “Não”, “não” e “não”. Eu descobri que para o meu estilo de pessoa, o trabalho em engenharia aeronáutica e aeroespacial não era o que eu queria, não é o que eu imaginava, não é o que eu me interessava e não era o que eu queria fazer a minha vida inteira.

Logo, eu precisava buscar outro trabalho que me dessem mais realização, mas que o que traz a realização do trabalho? Aí um ponto é o estado de flow, é você ter esse estado de imersão total na atividade pelo menos algumas vezes na semana. É um trabalho que sua habilidade não é nem muito acima ao ponto de te dar ansiedade e nem muito abaixo a ponto de te dar tédio, é aquela linha do meio… É um trabalho também em que você tenha autonomia, pelo um pouco para poder decidir, para poder pensar… E não ficar preso em uma caixinha. 

E é um trabalho em que você tem um impacto… Você vê o seu trabalho feito lá no mundo e o impacto que ele gera, por mais pequeno que seja. Inclusive, pessoas que veem o seu trabalho como vocação costumam ser muito mais felizes e satisfeitas no trabalho. Então, para mim, bate muito com a ideia do estado de Flow. Eu queria realmente um trabalho que eu tivesse criatividade, que eu pudesse criar coisas novas e não fosse nem muito difícil, nem muito fácil e, de preferência, um ambiente que não fosse tóxico e com aquele tipo de competição que é um puxando o tapete do outro e, que no fim do dia, eu fosse pra casa com a sensação de ter feito algo útil. 

Sunk Cost

E aí comecei a me perguntar onde estaria esse trabalho perfeito… E aí me deparei com a ideia de “Sunk Cost” ou “custo afundado”, que é o seguinte: Imagine que você vai em um restaurante e a comida chega, mas é horrível, é muito ruim… E você sabe que você vai ter que pagar, o que você vai fazer? Você vai pagar e comer ou você vai pagar e ir embora? Fazer um miojo na sua casa? O custo afundado é esse valor do restaurante que você já vai pagar, então o que que você vai fazer? Você vai perder duas vezes ou só uma? Então, eu vi que não é porque eu tinha feito engenharia aeronáutica no ITA e doutorado em Proporção de Foguete que eu teria necessariamente que continuar nessa área. Existem outras áreas no mundo e eu não sou acorrentada a esse tipo de trabalho. 

Assim, eu fui abrindo as asinhas e vendo o que mais eu poderia fazer… Então li livros de empreendedorismo, fiz formação em yoga para dar aula, fiz curso de jardinagem no Senac, de culinária vegetariana também… Criei um site de meditação, fiz vestibular e passei em medicina na USP e na Unicamp… Tudo pra encontrar o que eu realmente queria fazer. Finalmente, criei um blog e foi o que eu descobri que mais me dava satisfação, era o que mais me ajudava a entrar no estado de flow, em que eu sentava, me concentrava e escrevia. E aí depois eu decidi criar um podcast e esse canal que você está vendo agora. Mas eu não tô em nenhum momento falando que criar um canal no YouTube e um blog é a solução. Já já eu te conto o porquê.

Fazer ITA faz sentido?

E respondendo à pergunta: “Fazer ITA faz sentido financeiramente?”. A verdade é que muito… Enfim, eu morava em Macapá e eu não via muitas opções de coisas diferente para fazer. E aí ter feito o ITA é um negócio que mudou 180. Primeiro que eu tive todo o suporte durante a graduação, então com alojamento por cinco anos, alimentação e até uma bolsa no primeiro ano. E, além disso, o principal do ITA e de faculdades assim nesse nível, não é nem a parte acadêmica, é o que você descobre lá, quem você conhece, o que você vê que é possível, ou seja, o quanto você cresce, o quanto abre sua mente e você conhece pessoas interessantíssimas com objetivos muito grandes. E isso meio que te impacta positivamente também e te impulsiona a ir atrás do que você quiser. 

E, para muita gente, para muitos colegas, realmente foi um lugar que possibilitou ganhar muito dinheiro, muito dinheiro… Então, você tem a opção de ir para banco, você pode ir para banco de investimento, que é a nata… Você pode ir para consultorias, dar consultoria, você pode ser CEO de empresas… Você pode, claro, abrir sua própria empresa, abrir sua startup, conseguir muito investimento… Ou seja, você pode fazer muita coisa e você conhece muitas pessoas que já fazem isso, que você pode ir lá e falar: “E aí, eu posso trabalhar com você?”. Mas é claro que nem sempre vai ser o trabalho que você quer, então tudo precisa ser analisado. 

E você pode também ficar na engenharia… E a verdade é que a minoria fica, porque é muito mais difícil achar o trabalho que você quer. Mas isso é minha opinião pessoal. Em todo esse conjunto de possíveis trabalhos, você tem que ver se vai bater com o que você gosta de fazer, com que você quer fazer, com que você se alinha no propósito do trabalho… Mas que mensagem eu quero deixar nesse vídeo?

Destino reto não existe

Eu não quero falar que o mundo perfeito é quando você for youtuber, quando você criar conteúdo, quando você trabalhar online, não… Eu quero falar que esse destino reto não existe, essa reta não existe. E não importa o que você já fez no passado, você sempre pode abrir suas asas, descobrir novas áreas, se jogar em cursos de áreas muito loucas, principalmente se você puder durante a faculdade… Vai lá, faz estágio em tudo quanto é empresa, descubra várias áreas, viaje, conheça pessoas diferentes e vá abrindo sua cabeça para o que é possível. Vai descobrindo o que você gosta e, principalmente, o que você não gosta de fazer. 

E, por fim, essa ideia de você alcançar um objetivo e só depois de você ser feliz é muito absurda. Se fosse assim para mim hoje, eu só seria feliz quando eu fizesse vídeos incríveis e tivesse 1 milhão de inscritos. E aí, depois eu teria que continuar crescendo, crescendo e crescendo… Mas não, eu posso simplesmente ser feliz hoje, independentemente de onde eu estiver. Inclusive, foi engraçado quando mudou de 99 mil pra 100 mil inscritos no YouTube… Eu pensei que a minha vida ia mudar, “nossa, agora vou ser uma pessoa que tem 100 mil”… Não mudou nada. É muito isso, a gente tem que ser feliz no caminho e ir abrindo a mente para o que é possível fazer pra encontrar um trabalho que você gosta. E, provavelmente, quando você encontra o trabalho que você gosta, você também vai ser bem remunerada. 

E se não for, de repente, você acha outro trabalho. Então, a ideia de não colocar a felicidade no futuro, de ver o próprio caminho como propósito e viver tudo como aventura, de verdade… Parece clichê, mas é isso. Portanto, no fim, pra mim valeu sim a pena ter feito engenharia aeronáutica no ITA, mas não por dinheiro, mas sim pelo que eu aprendi, pelo o que eu cresci e depois pela coragem de sair da linha reta do esperado e ir atrás de outra área, que é o que eu faço hoje. No fim, parece que eu me realizei e tudo acabou, mas não… Continue indo atrás dos seus sonhos, o mundo precisa da habilidade que só você tem. E a gente se vê no próximo post. Tchau.